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Porque as pessoas não fazem a coisa certa?
- 10 de Agosto, 2020
- Publicado por: Felipe Guinossi
- Categoria: Saúde
“Porque as pessoas não fazem a coisa certa?”
Com esta simples pergunta, referia-se o professor Carlos Starling, aos protocolos de assepsia ligados aos trabalhadores da saúde e a nós não trabalhadores da saúde, mas que temos tanta dificuldade de realizarmos os cuidados simples, mas extremamente necessários e que se tornaram vitais, neste momento da pandemia de COVID19, podendo determinar, em última instância, vida ou morte.
Comenta ainda, “que durante 30 anos, diuturnamente ensinava aos trabalhadores dos hospitais a fazerem esta assepsia com exatidão”. E porque agora estamos em meio a uma calamidade fica escancarada a dificuldade humana de seguir regras, de criar cultura de “o certo é melhor e custa muito menos”.
Trago esta reflexão para o mundo da gestão em saúde.
Porque não se fez o planejamento, a gestão técnica, porque nos limitamos a copiar os planos dos outros, porque acreditamos que poderíamos fazer empirismo o tempo todo e daria certo?
Toda fragilidade do sistemas está agora exposta, não temos capacidade instalada, e onde a temos não há capacidade operacional, os instrumentos de gestão na maioria dos municípios não passam de documentos de gaveta, compilados para cumprirem legislação. Não temos gestores em número suficiente e treinados para realizarem o gerenciamento dos serviços e sistemas, tão complexos.
Muitas destas fragilidades tem sua raiz no Ministério da Saúde, que parece não entender seu lugar de propositor das políticas públicas de Saúde, conforme Art. 196. CF “A saúde é Direito de todos e dever do Estado”. Há um “continuísmo de políticas verticais, que muitas das vezes vão de encontro as necessidades e especificidades regionais. Não há liberdade de gerenciamento no financiamento que continua atrelado aos blocos como nos modelos anteriores, sendo portanto necessário aos assessores de planejamento/gestores municipais realizarem malabarismo no contingenciamento do orçamento da saúde, para que ele possa retratar uma “aproximação” com as realidades locais e parearem com o Plano Plurianual/Plano Municipal de Saúde, LEI Orçamentária Anual-LOA/PAS -Programação Anual de Saúde.
Para o Prof. Áquilas Mendes, “No tocante ao modelo orçamentário, o novo modelo não acrescentou nada, tendo em vista que os recursos/ prestação de contas continuam atrelados aos blocos de gestão”.
Estamos no período onde devemos fazer a revisão de todos os instrumentos de gestão (Plano Municipal de Saúde, Programação Anual de Saúde e irmos preparando o Relatório Quadrimestral) com vistas a revisão do orçamento para ser entregue até 31 de agosto (prazo legal). Sem esquecermos que estamos em último ano de mandato e mesmo que reeleitos temos legalmente de compilar estes documentos para os devidos Órgãos de Controle. Junte a este pacote o financiamento que chega aos municípios para o enfrentamento da COVIS 19. E neste ínterim vamos falar que o município precisa publicar o Decreto de Calamidade, para poder inserir em seu pedido de suplementação orçamentária os devidos valores.
Nos parece que as propostas vem de pessoas que nunca viveram no município, que é onde tudo acontece! Será que alguém nasce na União ou no Estado? Sim, porque o natural é nascermos no município, crescermos, vivermos, adoecermos, investirmos no município. Exceção apenas para os brasilienses que nascem no município/estado.
Resultados é que vemos um enorme sofrimento das pessoas que estão à frente da gestão e da assistência, tendo soluções bem a sua frente, mas a miopia do desconhecimento os fazem frágeis, desgastados, cansados pelo volume de tarefas e muitas vezes sem perspectivas. Há um “tarefismo” exagerado, milhares de telefonemas, pedidos sem fim, exaustão e pouquíssima solução.
Porque não se fez a coisa certa, no tempo certo e com a melhor tecnologia, sendo que todos os instrumentos de gestão estão disponibilizados?
Não há como, em pleno século XXI, querer fazer a mesma coisa e sonhar com resultados diferentes.
A cultura do “achismo” teve seu término neste momento, ficou claro que fazer o certo é melhor e custa menos.
Necessário focar no planejamento, metas, avaliação de resultados, custo/benefício.
Os modelos que insistirem em resistir a tecnologia, análise de dados para tomadas de decisão, serão fatalmente levados a erros enormes, com grande prejuízo para a saúde da população e para os cofres públicos.
Sendo que se tivessem feito o “certo”, teriam em mãos agora o caminho das pedras a ser trilhado: Planejamento/Plano Municipal de Saúde/LDO- Lei de Diretrizes Orçamentárias, Programação Anual de Saúde/LOA- Lei Orçamentária Anual, RAG- Relatório Anual de Gestão, Prestação de Contas. Saberiam suas fortalezas e fragilidades, seus vazios assistenciais, baseados em dados robustos, tendo assim o caminho das pedras a ser percorrido, em tempo hábil para responderem às inúmeras demandas que se apresentam a todo momento.
Necessário, fundamental mesmo ter em mãos um sistema de informação confiável, que libere relatórios em tempo real e em vários instrumentos (PC, tablete e celular). Isto de aguardar os relatórios ao final do dia, é passado.
Sem o mapa do “estado da arte” em tempo real, o Gestor continua refém de relatórios fragmentados e frágeis. O que o leva a tomadas de decisões incompatíveis com as soluções esperadas, no sentido de enfrentamento dos eventos, sejam eles de saúde ou econômicos.
Não há caminho fácil, mas a decisão política baseada em dados técnicos fortalece as decisões!
Referências
– ” Porque as pessoas não fazem a coisa certa?”
Prof., Dr. Carlos Starling/YOU TUBE, Live Sempre um Papo
_ Marques R M, Mendes A. O financiamento do Sistema Único de Saúde ea as Diretrizes do Banco Mundial. In Pereira J M, Pronko M. A. A demolição de Direitos: um exame das políticas do Banco Mundial para a Educação e a Saúde(1.980-2.013). Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio 2.014;
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[1] Marileni N. Martins – Especialista em Gestão de sistemas e Serviços de Saúde, Especialista em Educação para a Saúde, Liderança Time UNIVERSAÚDE, Coach Gestão de Saúde.